Em “O Outro Lado”, o leitor acompanha a jornada de um serial killer que acredita ter nascido com o dom de reconhecer os indivíduos verdadeiramente bons e que demonstram a benevolência e a nobreza de espírito por meio de seus atos. Ao reconhecer características tão sublimes de humanidade, busca uma maneira discreta e eficiente de garantir a passagem do maior número possível dessas pessoas para o Outro Lado, um lugar criado por seu próprio imaginário, sua concepção particular de paraíso, confiando veementemente nesta prática como o sentido quase religioso e missionário de sua existência, atribuindo às pessoas que mata o significado do sonho e da esperança de constituir um ideário de vida societária onde somente o bem prevalecerá.
Paralelamente, percorremos os corredores da mente de dois personagens com dramas perturbadores: uma mulher que nos últimos seis anos apenas se dedica à recuperação de sua irmã em coma, vivenciando os dissabores de uma vida marcada por renúncias e distanciamento de familiares, amigos e diversões e um adolescente que teve sua acessibilidade reduzida após um acidente, com seu cotidiano descrito, desde então, pela apatia, desesperança e narrativa que apresenta o olhar que ele próprio constrói sobre si, limitado pela dependência, exclusão, estigma, desigualdade e sofrimento.