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B. Kucinski

Pretérito Imperfeito

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  • Ewerton Muriloцитує4 роки тому
    Até que um dia, ainda hesitantes, deixamos escapar uma palavra a um amigo mais chegado. Uma palavrinha, tão somente. Desabafo discreto. Muito bem não está. Há um problema. O outro então se abre. Também calara sua história. A descoberta nos conforta. Não deveria, mas nos conforta. Não o admitimos, mas nos conforta, como se o desamparo do outro diminuísse o nosso. Reticentes, ouvimos suas experiências, e, reticentes, eles ouvem as nossas. Trocamos endereços, indicações. Depois, não mais falamos de nossos filhos.
  • Ewerton Muriloцитує4 роки тому
    Vejo no flagrante desse abraço de pai e filho uma combinação paradoxal de afeto e estranheza. É como se o afeto partisse de mim, e a estranheza partisse dele. Um abraço que não consegue anular a distância que naquele momento separava seus pensamentos dos meus.
  • Ewerton Muriloцитує4 роки тому
    Ele está com nove anos ou pouco mais e sabe que aquela genealogia não é a sua, que é um enxerto num tronco cujas raízes desconhece.
  • Ewerton Muriloцитує4 роки тому
    como se ele se sentisse um clandestino no navio da existência, um viajante ilegal, um passageiro sem bilhete que precisa se esconder até o final da travessia.
  • Ewerton Muriloцитує4 роки тому
    Grávida e feto formam um corpo único, compartilhando fluidos, humores e sensações cognitivas. E a tensão crescente? Parto na espécie humana não é coisa pequena. É ruptura. Te farei sofrer e com muita dor darás à luz, diz Deus a Eva, em Gênesis. Inconscientemente, a mãe regride às suas próprias experiências de bebê e a seu baú de memórias. Por isso maternidade também é risco. Risco de depressão pós-parto. Risco de surtos psicóticos. Risco de sucumbir ao extremo de rejeitar o bebê. No nascimento, o corpo da mãe se parte em dois, e o bebê irrompe no mundo como um novo ser, mas as partes permanecem emocionalmente unidas, seja pelo amor ou pelo desamor.
  • Ewerton Muriloцитує4 роки тому
    O senso comum vê adoção como ato de caridade. Quanta ilusão! Adota-se quase sempre para ter uma família, não para dar uma família à criança. É o miserável desamparo nosso que nos move, não o desamparo maior da criança. Adota-se para fugir a um luto, para compensar uma perda, para salvar um casamento, ou por uma combinação desses motivos.
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